A enxaqueca é uma das condições médicas mais comuns da humanidade. Trata-se da doença mais incapacitante entre pessoas com menos de 50 anos, com grande impacto negativo na vida pessoal, profissional e social. Inicialmente, é importante que você entenda a definição de alguns termos, especialmente a diferença entre dor de cabeça e enxaqueca.
Índice
3. Os sintomas da enxaqueca
3.1 1ª fase: pródromo
3.2 2ª fase – aura
3.3 3ª fase – Dor
3.4 4ª fase – pósdromo
4. Como é feito o diagnóstico da enxaqueca?
5. Tratamento da enxaqueca: os 10 pilares
O que é enxaqueca
A enxaqueca é uma das condições médicas mais comuns da humanidade. Trata-se da doença mais incapacitante entre pessoas com menos de 50 anos, com grande impacto negativo na vida pessoal, profissional e social. Inicialmente, é importante que você entenda a definição de alguns termos, especialmente a diferença entre dor de cabeça e enxaqueca.
Dor de cabeça é um termo genérico que se refere a qualquer dor que acometa a região da cabeça. Sendo assim, é utilizada para descrever o sintoma (dor), independentemente de qual tenha sido a causa.
Você pode ter dor de cabeça em decorrência de várias condições, desde causas não graves como parte do quadro de um resfriado, uma crise de enxaqueca, até doenças potencialmente fatais como acidente vascular cerebral (AVC), tumor cerebral, meningite, entre outros.
Há mais de 200 tipos de dor de cabeça em razão das suas mais diferentes causas. Elas estão catalogadas na Classificação Internacional das Cefaleias e podem ser divididas em 2 grandes grupos: cefaleias primárias e cefaleias secundárias (cefaleia é o termo técnico para dor de cabeça, são sinônimos).
Cefaleias secundárias são aquelas em que a dor de cabeça origina-se de uma outra causa como um resfriado, traumatismo craniano (pancada na cabeça), AVC, tumor, entre outros. A dor de cabeça, portanto, é um SINTOMA de uma outra condição e pode vir acompanhada ou não de outros sintomas a depender dessa causa secundária.
Cefaleias primárias são aquelas que não são causadas por uma outra condição e a dor de cabeça é a própria doença. Como exemplo, temos a enxaqueca, a cefaleia do tipo tensional, cefaleia em salvas, entre outras. Esse grupo representa mais de 90% das cefaleias.
Dessa forma, a enxaqueca é um tipo de cefaleia primária, uma doença específica e com características próprias.
A causa da enxaqueca
A enxaqueca é uma doença genética complexa. Se você tem enxaqueca, significa que você nasceu com os genes da doença e, por essa razão, passou a manifestar os sintomas dessa condição a partir de uma certa idade.
Esses genes sempre estarão com você, por esse motivo a enxaqueca não tem cura, embora possa ser controlada com o tratamento.
Os genes da enxaqueca podem ser herdados e isso faz dela uma doença muitas vezes hereditária. Se uma pessoa tem um dos pais com enxaqueca, o risco de ter a doença é em torno de 40-50%. Caso os dois tenham, esse risco sobre para algo em torno de 75%. Ter parentes de segundo grau com a doença está associado com 20% de chance de também tê-la.
Um motivo comum de dúvida sobre esse assunto é a confusão que se faz entre o significado de causa (genética) e gatilhos. Os gatilhos são condições que, quando presentes, tornam o cérebro mais sensível e capaz de desencadear a crise de dor. É como um copo cheio (cérebro do enxaquecoso) que transborda com o mínimo de líquido a mais (gatilho).
Dessa forma, não há enxaqueca hormonal ou enxaqueca emocional por exemplo. Alterações hormonais ou emocionais não são a causa e sim gatilhos.
Há diversas alterações no sistema nervoso central, especialmente no cérebro, de quem é portador dessa condição. O mecanismo exato que explica a doença ainda não é totalmente compreendido, mas muito já se sabe com o avanço das pesquisas nos últimos anos.
O nosso cérebro é formado por diversas células chamadas de neurônios. Eles conectam-se entre si e são responsáveis pelas diversas funções cerebrais. Essa conexão acontece através da liberação de substâncias químicas entre eles, chamadas de neurotransmissores.
Na enxaqueca, há um desequilíbrio químico de neurotransmissores que leva a uma ativação anormal de certos neurônios. O resultado é a dilatação dos vasos sanguíneos e inflamação das estruturas que ficam em volta do cérebro.
Soma-se a isso a estimulação de um nervo chamado trigêmeo (V nervo craniano) que é responsável por captar e levar estímulos dolorosos provenientes das estruturas da cabeça para dentro do cérebro, onde é interpretado como dor. Essa ativação é anormal na enxaqueca e ocorre mesmo que não haja um motivo externo que gere dor.
Em resumo, você tem os genes da enxaqueca no seu DNA. Esses genes são responsáveis pelo desequilíbrio químico do seu cérebro que, em última análise, gera dor de cabeça, mesmo sem ter um outro motivo que a justifique.
Os sintomas da enxaqueca
A enxaqueca é uma doença neurológica. Embora tenha a dor de cabeça como sintoma central, causa diversos outros sinais e sintomas. Boa parte deles você já associa com a doença, mas pode ser que muitos você apresente e nem tenha correlacionado com a enxaqueca.
Antes de tudo, é importante entender que a crise de enxaqueca é dividida em 4 fases, sendo a fase da dor apenas uma delas.
1ª fase: pródromo
Essa fase inicia até 24-48h antes do início da dor em si e pode causar diversos sintomas:
- alteração do humor;
- bocejos;
- desejo por doces;
- irritabilidade;
- dor no pescoço;
- vontade de urinar mais vezes;
- fadiga;
- dificuldade de concentração;
- sede.
2ª fase – aura
Essa fase acontece em cerca de 20-25% dos pacientes com enxaqueca. A aura é um fenômeno neurológico transitório que dura em média 5 minutos a 1 hora e anuncia a crise de dor que vem em seguida. Menos frequentemente, ocorre junto com a dor ou mesmo isoladamente.
Esse fenômeno acontece por uma alteração transitória da atividade elétrica de neurônios que se inicia na região posterior do cérebro e se propaga como uma onda para as regiões anteriores do córtex cerebral.
Mesmo nesse grupo de pacientes, nem toda crise de enxaqueca é precedida pela aura. Quando ela aparece, a crise costuma ser mais forte.
Mais de 90% das auras são visuais e há outros tipos menos comuns. Mais de um tipo de aura pode acontecer na mesma crise. São eles:
Aura visual
Pontos brilhantes na visão como vagalumes ou flashes, imagens em cores, visão borrada, linhas em zigue-zague ou ponto cego na visão.
Aura sensitiva
Dormência ou formigamento de um lado do corpo ou dos dois lados, no rosto, em volta da boca, mãos ou pés. Os sintomas podem migrar de uma área a outra do corpo durante a aura. É o segundo tipo mais comum.
Aura motora
Perda parcial ou total da força de um lado do corpo. É bem menos frequente.
Aura de linguagem
Dificuldade para encontrar palavras ou falar.
Aura olfatória
Percepção de cheiros imaginários como algo podre ou queimado. Muito raro.
3ª fase – Dor
A dor de cabeça da enxaqueca costuma ser do tipo pulsátil, latejante. Acomete classicamente um lado da cabeça, mas pode acometer os dois lados. O local da dor pode variar entre as crises, assim como a intensidade da dor que costuma ser de moderada a forte intensidade.
Vem acompanhada de náuseas e vômitos em boa parte das crises. Piora com movimentação da cabeça ou esforços habituais como subir escadas ou carregar sacolas por exemplo.
Há uma hipersensibilidade aos estímulos que se traduz por intolerância à luz (fotofobia), intolerância ao barulho (fonofobia) e intolerância ao cheiro (osmofobia).
As crises classicamente duram de 4h até 72 horas, mas não é incomum durarem mais tempo, o que chamamos de status migranoso.
Há diversos outros sintomas que também podem estar presentes na fase da dor, mas não obrigatoriamente: tontura, sintomas ansiosos, dor no pescoço, raciocínio lento, pensamentos confusos, irritabilidade, diarreia, zumbido, fadiga, etc.
4ª fase – pósdromo
A quarta fase é o pósdromo, também chamada de fase da “ressaca”. Quando a dor mais intensa passa, entramos nessa que é a última fase. Pode durar até 1-2 dias. Os sintomas mais comuns são: sonolência, fadiga, dificuldade de concentração, humor deprimido, sensação de peso leve na cabeça.
Essas 4 fases nem sempre estão presentes em todas as crises e tendem a serem percebidas mais facilmente naquelas mais fortes.
Como é feito o diagnóstico da enxaqueca?
É muito comum o relato de pessoas que já fizeram diversos exames normais e não entendem como apresentam tantos sintomas incapacitantes. Erroneamente, interpretam que se o exame é normal, é porque elas não têm nada ou que o seu problema é um mistério que médico nenhum descobre, pois não apareceu em nenhum exame.
A grande verdade é que muitas doenças não aparecem em exames convencionais. Não porque ela não exista, mas simplesmente porque esses exames não são capazes de detectar essas alterações. É exatamente isso que acontece com a enxaqueca.
Exames como tomografia computadorizada, ressonância magnética, eletroencefalograma ou exames de sangue não são capazes de detectar as alterações químicas que acontecem no cérebro de quem tem enxaqueca.
Por outro lado, exames disponíveis geralmente apenas em ambientes de pesquisa como ressonância magnética funcional, PET e SPECT mostram que o cérebro de quem tem enxaqueca apresenta certas diferenças quando comparado àqueles que não tem essa condição.
Dito isso, é possível com grande grau de certeza o diagnóstico da enxaqueca baseado na história do paciente através dos seus sinais e sintomas. Essa análise deve ser criteriosa e técnica, afinal há outras causas de dor de cabeça e a enxaqueca é apenas mais uma delas. Portanto, esse diagnóstico deve ser feito pelo neurologista e jamais o paciente deve se autodiagnosticar.
Tratamento da enxaqueca: os 10 pilares
Quando falamos em tratar a enxaqueca, boa parte das pessoas imagina um remédio que você toma no momento da dor e sua crise estará resolvida. Durante um tempo, essa estratégia até funciona, mas as consequências de longo prazo podem ser perigosas.
Usar analgésicos em excesso pode piorar a sua enxaqueca. É isso mesmo que você leu! Uso em excesso significa tomar analgésicos mais que 10 dias por mês durante 3 ou mais meses. O mesmo analgésico que alivia a dor em um primeiro momento provoca um efeito rebote que faz com que as crises aumentem em frequência, intensidade e duração.
Além disso, com o tempo, o próprio analgésico passa a não fazer mais tanto efeito durante a crise e você aumenta a quantidade de comprimidos ingeridos por vez ou mesmo toma mais de um tipo de analgésico quando a cabeça dói. É um ciclo vicioso!
A solução passa pela desintoxicação dos analgésicos até o limite recomendado. Não é tarefa fácil, mas o seu neurologista pode lançar mão de estratégias que vão te ajudar nesse processo.
Nesse momento, deve-se instituir o tratamento preventivo (10 pilares) que tem por objetivo EVITAR que as crises de dor apareçam com tanta frequência, além de diminuir a intensidade e duração das crises.
Os 10 pilares consistem em uma abordagem didática que criei e que te fará entender todos os pontos essenciais para o seu tratamento e a importância de cada um deles. Envolvem desde hábitos de vida, passando pelas estratégias do que fazer durante a crise, até as opções de tratamento preventivo com remédios ou outras terapias. Trata-se de um conjunto de estratégias baseadas em evidências científicas. São eles:
- Gestão das emoções
- Sono reparador
- Hidratação
- Alimentação saudável
- Atividade física regular
- Tratamento da crise e uso racional de analgésicos
- Terapias não medicamentosas
- Tratamento preventivo farmacológico
- Nutracêuticos
- Anticoncepcional/DTM/Outras doenças
A partir da avaliação do seu caso baseada nos 10 pilares, definimos um plano de tratamento personalizado com objetivo de controlar a enxaqueca e resgatar a sua qualidade de vida.